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terça-feira, 13 de março de 2007

Nesta nossa Semana da Leitura houve espaço e tempo para ler e partilhar a leitura, ver, ouvir e sentir todas as palavras que nos levam pelo mundo fora...


... e no seu caminho pela aventura, o nosso herói encontra sempre alguém que o ajuda: uma velha, um feiticeiro, uma rapariga, uma fada...

2 comentários:

  1. Semana da Leitura! Vi e gostei. Muito. Os protagonistas foram aqueles que o deveriam ser: os alunos. Os professores a colaborarem com a biblioteca... e com a leitura.
    Devo, porém, alertar para os perigos da leitura, que são reais. E existe uma fronteira que depois de ultrapassada não permite retrocessos. E, nesse caso, as consequências podem ser terríveis. Assustadoras. Catastróficas, mesmo.
    No século XII costumava dizer-se que um livro na mão de uma criança era mais perigoso do que uma espada. É verdade que, na altura, os livros eram tão raros e pesados que a criança corria de facto o risco de esmagar um pé e, ainda por cima, ser pendurada pelos pés como castigo pela sua impertinência. Ler era, então, uma actividade perfeitamente desprezível: não havia livrarias e para se ir a uma biblioteca tinha de se concluir o magistério do sacerdócio. Fazer um livro era uma actividade dolorosa e claramente redundante uma vez que se destinava apenas àqueles que os faziam. À generalidade das pessoas em nada importava. Continuavam a contar somente consigo mesmas.
    Mais tarde, com o aparecimento da abominável imprensa o livro democratizou-se, como gostam de dizer os políticos. Estando a palavra escrita e sabendo ler já não era preciso pensar. A memória que durante séculos alimentara o espírito, de repente deixou de ser necessária. O espírito emudeceu. O ser humano estava condenado. Quem conseguir passar ao lado dos livros e da leitura tem de continuar a forçar a memória e, por isso, condenado a governar.
    Creio, parece-me, que com esta semana condenaram mais alguns alunos à terrível ausência da memória.
    Saudações bibliófilas!

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  2. É verdade!

    Os livros e as bibliotecas são perigosos, ora vejamos:

    «Na Primavera de 1998, Bluma Lennon comprou numa livraria do Soho um velho exemplar dos Poemas, de Emily Dickinson, e, ao chegar ao segundo poema, na primeira esquina, foi atropelada por um automóvel.

    Os livros mudam o destino das pessoas. Uns leram O Tigre da Malásia e converteram-se em professores de literatura em remotas universidades. Siddhartha levou ao hinduísmo dezenas de milhares de jovens, Hemingway converteu-os em desportistas, Dumas transtornou a vida de milhares de mulheres e não poucas foram salvas do suicídio por manuais de cozinha. Bluma foi vítima deles.

    Mas não a única. O velho professor de línguas antigas Leonard Word ficou hemiplégico ao levar na cabeça com cinco volumes da Enciclopédia Britânica, que se desprenderam de uma estante da sua biblioteca; o meu amigo Richard partiu uma perna ao tentar chegar ao Absalão, Absalão!, de William Faulkner, mal colocado numa estante, o que o levou a cair da escada. Outro amigo de Buenos Aires adoeceu de tuberculose nos sótãos de um arquivo público e conheci um cão chileno que morreu de indigestão com Os Irmãos Karamazov, depois de devorar as suas páginas numa tarde de fúria.

    Sempre que a minha avó me via a ler na cama, costumava dizer-me: “Larga isso, que os livros são perigosos.” Durante muitos anos acreditei na sua ignorância, mas o tempo demonstrou a sensatez da minha avó alemã.

    O funeral de Bluma atraiu numerosas autoridades da universidade de Cambridge. No ofício religioso, o professor Robert Laurel dedicou-lhe uma soberba despedida, logo editada em opúsculo pelo seu mérito académico. Ressaltou a sua brilhante carreira universitária, os seus quarenta e cinco anos de sensibilidade e inteligência e, no corpo principal do trabalho, as suas decisivas contribuições para a investigação do rasto anglo-saxónico nas letras latino-americanas. Mas culminou com uma frase controversa: “Bluma consagrou a sua vida à literatura sem imaginar que ela a levaria deste mundo.” (…)»

    A casa de papel / Carlos María Domínguez. - Porto: Edições ASA, 2006. - 77 p. ISBN 972-41-4540-9 (brochado)

    Boas leituras,
    Maria Teresa Semedo

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